sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Velha história

Não adiantava mais esperar, o lambe-lambe não voltaria. Meses já a sua casinha fechada, no velho parque. Todos os dias aparecia para o trabalho, pontualmente na hora de costume. Quando um dia não apareceu, pensaram em doença, nalgum impedimento, um ou outro contratempo. Os velhos do dominó falaram que deveria ter ido visitar algum parente, ainda que soubessem que o lambe-lambe já não tivesse mais nenhum vivo próximo ou distante.

Por fim, decidiram desmontar a casinha. Era preciso abrir espaço para abrigar outro carro de doces. Já há anos que vinham falando em tirar o lambe-lambe dali; poucos ou quase ninguém utilizava seus serviços. Preferiam tirar as fotos eles mesmos, com suas máquinas digitais.

Abriram a portinhola, que nem bem fechada ficava. Lá dentro, uma infinidade de fotografias coladas pelas paredes, guardadas em caixas de sapato. Sorrisos de crianças, pais contentes, namorados de minuto, amantes de anos. Pessoas que nunca vieram buscar suas fotografias, reveladas há anos, muitos anos.

A casinha se foi; quem passa pelo parque hoje pode ver ainda o telhadinho, que foi reutilizado na jaula dos macacos. A prefeitura pagou um sepultamento simbólico na ala pobre do cemitério municipal. O tempo já longe se vai, mas se perguntarem pros velhos jogadores de dominó, dirão que o lambe-lambe se sumiu no mundo em busca do último sorriso que lhe faltava pra suspirar contente e que decerto ainda anda por aí, atrás dele.

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