domingo, 26 de fevereiro de 2012

Apenas Negócios

Havia algo de errado nos jeitos daquele cara.

Mas a cara em si não era o problema.

Óculos escuros à meia-noite. Uma ou outra cicatriz perdida pela testa, pelo queixo. Nariz torto, quebrado há seis meses ou há seis anos. Leve cheiro de álcool sujo. Isso a gente vê quase todo dia. Nada extraordinário.

O que não colava naquele quadro todo eram as lágrimas que caiam.

É que eu tenho problema desde criança.

Lenço bordado, bem branco, limpando o rosto. Dobrava, bem cuidado, no bolso.

O negócio era simples. Meu sócio está me passando pra trás. Não precisa seguir o cara, saber onde ele vai, com quem anda, pegar ele com a mão na botija ou na xoxota da minha mulher.

Me falaram que você pode me ajudar de outro jeito.

Quero que ele suma.

Desaparecer. Esse era meu negócio.

Sabia desaparecer tão bem que todo mundo queria que eu fizesse o mesmo truque pra todo mundo. Faz ele desaparecer! Palmas da platéia, abaixem a cortina.

Seria massa abrir uma escola de desaparecer, nunca pensou nisso? Dava até capa de revista de negócio.

O negócio era simples. Como sempre.

Metade agora, metade depois. Bastava deixar só metade da cabeça dele.

O cara está me passando pra trás. Sempre foi meu irmão, tratei o desgraçado a pão de ló e isso que recebo.

Limpa a lágrima no rosto, por debaixo do óculos.

Acho que estou precisando de detergente em casa. Qualquer um. Cheiro barato, limpeza barata, crime barato.

Envelope pardo. Porque esses caras sempre usam um envelope pardo?

Você me encontra aqui, amanhã.

Ele se levanta pra ir ao banheiro, secar as lágrimas e a bexiga.

Desapareço pela porta da birosca.