segunda-feira, 17 de maio de 2010

Lista de compras

Apoiou as compras na soleira da porta. A terceira chave, sempre aquela que custava sair do bolso. A porta precisava de óleo. Mas não havia nenhum em casa.

Largou as chaves no sofá. Problemão achá-las de novo quando tivesse que sair novamente. Chegou a cozinha. Lá o esperavam.

O homem era rouco. Percebeu isso antes mesmo que ele falasse alguma palavra. Só pelo som estranho que fazia ao respirar, já dava pra saber que era rouco. Por que esses caras sempre tinham que ter algum problema estranho?

Olá, estava te esperando.

A embalagem de refrigerante aberta na mesa, sem cerimônia. Bebeu do bico. Embalagem inutilizada.

Abrir o pacote, guardar as compras, abrir os armários.

Você sabe porque eu estou aqui, não sabe?

Esquecera do detergente. Pegou, pagou, mas não levou. Espero que esteja precisando de detergente na sua casa, mocinha do caixa.

Faz tempo que estamos atrás de você.

Não deixe o chinês dono do mercado ver que deixei o detergente no balcão, mocinha do caixa. Guarda logo, esconda!

Andou se escondendo muito bem, não foi?

Todos os dias, a rotina. As três quadras até o mercadinho. O boliche, o bar, os caras.

Você é a porra de um mudo, cara?

Espero muito que aproveite o detergente, mocinha do caixa. Estava precisando dele bastante. Talvez ela tenha criança pequena em casa. Quem tem criança pequena sempre precisa de bastante detergente.

Não me faça fazer isso.

Bananas, azeitonas, carne, ovos.

Armário.

Arma.

Tiro.

Droga. Esquecera-se das toalhas de papel. Sempre se esquecia das toalhas de papel.