segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Paralelo e transversal

Tão estranho. Aquelas ruas já haviam sido menores na sua memória. As esquinas apertadas, os prédios lado a lado, estrangulados.

Mas, ao passar agora por aqueles pontos do antes, as ruas ganhavam ares de avenidas, as luzes eram maiores, ofuscantes.

Quanta coisa largada por ali, na sarjeta. Aquela vez, aquela outra vez, aquela vez mais.

Mas não mais.

Não mais.

Fantasmas que habitavam as placas, as portas que poderiam se abrir a qualquer momento e atirar caras conhecidas, envelhecidas. Que vontade estranha aquela de passar por ali novamente.

O tudo era como um palco que se chegasse depois de fechadas as cortinas e as luzes se houvessem esfriado, congelado. Não haveria mais nada por ali, mas havia tudo, ao mesmo tempo, em algum lugar por detrás de seus olhos.

Quantas chuvas haviam caído por ali e levado o lixo rua abaixo? Quantos pés haviam gasto as calçadas com seus passos desde que saíra dali? Não dava pra saber.

Mas aquelas pedras ainda retinham o cheiro do sangue seco. Os neons e as publicidades ainda explodiam a cada segundo em seu rosto.

Precisava se limpar, ir pra casa, tomar banho, ir ver os caras no bar, dormir.

E esperar que talvez no outro dia não tivesse que levantar da cama.

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