terça-feira, 8 de junho de 2010

Roupa suja

É preciso atravessar a rua rápido. Se esconder debaixo da outra marquise. De uma ponta a outra. A enxurrada leva tudo, jornal, garrafa, entulho.

Os pés encharcados, o piso escorregadio. Só mais uns passos até o bar.

Olhos dentro dum brexó. Sujeito meio japonês, olho vesgo.

Cores horríveis, os paletós no cabide. Buracos de traça perto da manga. Roupa usada, roupa surrada. Devem ter pertencido a gente que já morreu.

Mais uns passos. Rua sem saída. Os pés pulando uma poça. Mais dois pés pulando uma poça. Rato de esgoto passa rápido, corre pro escuro do beco. Se esconder onde, até quando?

Tão certo que aquelas mãos carregavam algo dentro do bolso. Não dá pra esconder nada por muito tempo.

Esconder. Debaixo da marquise. Dentro do bar. Dentro do copo. Dentro do bolso. Esconder.

Mão no ombro. Mão saindo do bolso. Mão sai do bolso. Luz. Água. Poça. Corpo no chão, pesado, vesgo.

Não se preocupe, no brexó aceitam roupas furadas.

Mais uns passos. Mais uma poça.

O bar, os caras.

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