quarta-feira, 10 de março de 2010

Profecia para idealizar livro em promoção de gôndolas de supermercados de bairro

Quando jovem, uma cigana encontrou-o e disse que teria uma morte horrível. Marcado pro resto da vida, sempre tinha cuidado em viagens, forrava sua casa de tapetes emborrachados, não deixava a porta aberta, pra não pegar friagem ou ser assaltado cruelmente. Na rua, olhava pros dois lados cinco vezes. Não ajudava as velhinhas a atravessar a rua; elas poderiam sofrer a sua sina, só por estar perto.

Quando se casa e tem filhos, procura a cigana de novo pra perguntar se o azar era hereditário. Não a encontra, o que aumenta seu augúrio. Para não arriscar, proíbe os filhos de fazer esportes perigosos. O que inclui futebol de botão, obviamente.

Um dia, precisa fazer uma viagem de avião. Quando no ar, a turbina falha, o piloto avisa que devem fazer um pouso forçado. Segura-se forte na poltrona, certo que seu destino chegou. O avião cai, 316 passageiros morrem. Somente ele e uma aeromoça sobrevivem. Perplexo, gostaria de perguntar pra ela se alguma cigana alguma vez disse que ela teria uma morte horrível, mas nunca conseguiu seu telefone.

A partir desse dia, tinha certeza que mais nada de mal lhe aconteceria. A cigana enganara-se. Envelhece, os filhos lhe dão netos, a família cresce. Um dia, de um mal súbito, desce ao hospital. A família ao seu lado, o neto mais velho segura sua mão e dá um sorriso pra mãe, do outro lado do quarto. Sim, gostavam tanto dele! Os papéis estavam prontos pra divisão de bens.

A enfermeira passa pelo quarto, pra ajeitar seu travesseiro. Quando se inclina, fala baixinho: "viu só? Eu não costumo errar. Quer mais um travesseiro, senhor?".

Um comentário:

  1. Escrita Maravilhosa como sempre, mas to meio besta essa semana e não achei o motivo da morte horrivel ainda, me pareceu tão boa a morte dele!!! estou ainda refletindo sobre isto!

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